11 de março de 2011

Coragem

Quando você está no colégio, no alto dos seus 15 anos de idade, qualquer garoto alto de olhos claros é um príncipe encantado. E ele era "o" príncipe encantado.

Acho que era um ano mais velho do que eu e tinha acabado de ser expulso de um dos colégios católicos mais tradicionais da cidade.

O alarme deveria tocar, tipo: " não deve ser flor que se cheire", mas ele era lindo. Tinha um sorriso de amolecer as pernas e eu ali, curtindo uma paixonite crônica, tentando deixá-la bem escondida por baixo dos panos, mas é claro que ele devia perceber meus olhinhos brilhando quando ele entrava na sala de aula.

Ele era engraçado, divertido, não estava nem aí com as aulas, professores, matérias. Ele odiava tudo aquilo, era um "Bon vivant".

E eu, depois de tantos anos carregando o rótulo de CDF da escola na testa, a menininha comportada que sempre tirou as melhores notas, resolvi que deveria aproveitar e me divertir um pouco, afinal estava no colégio, tinha 15 anos e a escola ficava a uns bons quilómetros de casa e minha mãe nunca ia ficar sabendo.

Então, foi com ele que "matei aula" a primeira vez. Pulando o muro da escola, um muro super alto com ele me colocando nos ombros pra eu descer do outro lado. Foi muito engraçado. Ele ria, eu me desequilibrava, pendurada nele, tentando não me espatifar do outro lado do muro.

Fora da escola, saímos correndo, livres, rindo como tontos...Foi maravilhosa a sensação de liberdade. Descemos caminhando até o centro da cidade, cantado, ele adorava Legião.

Acontece que um dia ele sumiu. Não apareceu um, dois dias à escola, passaram-se meses e nada dele. Uma menina que o conhecia disse que ficou sabendo que ele abandonou a escola.

Fiquei muito triste. Nada mais de ficar toda manhã esperando ele entrar na classe, jogar os livros na mesa e lançar um "daqueles" sorrisos de bom dia.

Passados todos esses anos, nunca mais soube dele, só me lembrava do seu sorriso arrabatador, dos olhos azuis e de como ele mexeu com o meu coração adolescente. Ficava apenas imaginando o que deveria ter sido dele, afinal abandonou os estudos, odiava a escola...pensava comigo que ele não devia ter ido muito longe.

Até que lembrei que inventaram o "Facebook" (ohhhh!!!) e resolvi procurá-lo. Só me lembrava do seu primeiro nome e haviam "trocentas" pessoas que se chamavam como ele. Aí lembrei do nome e sobrenome daquela amiga dele que tinha dado a notícia do seu sumiço e pensei que ele talvez estivesse entre seus contatos.

Estava.

Lindo.

Quero dizer, mais lindo.

E assim fiquei sabendo um pouco do que aconteceu com ele depois que saiu da escola. Ele terminou o colégio em outra cidade, entrou para a faculdade de arquitetura, mas trancou matrícula em seguida e foi morar em Barcelona.

Lá ele trabalhava com restauração de obras de arte (nossa, é demais, amoooo obras de arte!). Terminou a faculdade de arquitetura e agora ganha a vida como fotógrafo. Trabalha com fotógrafos renomados, o site dele tem fotos incríveis.

Eu tinha certeza que ele não seria um engravatado, um executivo, um advogado. Sua alma é livre e nada disso iria prendê-lo.

Fez tudo aquilo que teve vontade na vida e se tornou dono do seu destino. Isso só fez com que o admirasse ainda mais, não só por sua beleza, como na adolescência, mas pela coragem de cair de cabeça da vida, realizar seus sonhos e fazer tudo aquilo que lhe fazia feliz.

Queria ter sido tão corajosa quanto você.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá,
Que história não?
Vai meio que de encontro com o que me passou essa semana ao escutar uma música da minha adolescência e relembrar de situações vividas, só me restou rir, até postei algo bem curto sobre isso.

Legal sua experiência e por compartilhá-la aqui, no mais viva ao Facebook rs

Abraço,

Jair Gabardo.
www.paraquefiquem.blogspot.com